As Vespas Também São Importantes

Muito se tem falado, incluindo aqui no Blog, sobre o declínio acentuado dos insetos, mais concretamente dos insetos polinizadores, e dos impactos que esse desaparecimento pode causar no sistema alimentar mundial.

O desaparecimento total de determinados alimentos em certas zonas do globo e a redução drástica da variedade alimentar, devido à incapacidade das culturas de produzir sem polinização, parece algo tirado de um filme, mas é real, e poderá ser vivido por todos nós num futuro muito próximo.

A massiva utilização de agentes químicos tóxicos para controlo de variados aspetos da agricultura, a crescente pressão sobre o seu habitat, devido ao aumento exponencial da população humana, e as alterações químicas, consistem nos principais fatores para o desaparecimento destes insetos fundamentais.

Desaparecem pois não existem condições para a sua sobrevivência em locais cuja atmosfera está repleta de agentes tóxicos para a vida selvagem (e, em boa verdade, também para nós), sobrelotados, demasiado quentes e áridos.

Neste sentido todos os insetos com funções polinizadoras são fundamentais para o futuro de todos neste planeta, e neste grupo incluem-se, também, as vespas.

Este grupo de insetos ganhou má reputação devido à introdução involuntária na nossa fauna da espécie Vespa velutina, comummente conhecida por vespa asiática, que devido às suas características invasoras, tomou conta dos ares e predou sem descanso a nossa tão querida abelha melífera (produtora de mel). Mas nem todas as vespas são invasoras e, na verdade, elas são polinizadoras extremamente importantes e necessitam de ser compreendidas.

Sabemos bem o quão estranho este tema pode parecer. Todos fomos ensinados a aniquilar estes insetos imediatamente, pois possuem ferrão e capacidade de picar, dolorosamente e múltiplas vezes sempre que se sentem ameaçados. Contudo afirmamos: é preciso mudar esta atitude.

A maioria das vespas são excelentes predadores benéficos para culturas e até para as nossas pequenas hortas caseiras, nomeadamente no controlo da população de lagartas. Está também comprovado que certas espécies são ótimas polinizadoras, alcançando até melhores resultados do que as suas primas abelhas, e possuem especializações com certas plantas, que sem as vespas já não conseguiriam reproduzir-se.

Assim, a sua proteção e conservação é também fundamental para o futuro da polinização. Desta forma é importante ressalvar que:

- as vespas são insetos territoriais que não apreciam aproximações às suas colónias. Se observar uma colónia exercite prudência na aproximação e, na dúvida, contacte as autoridades que, com o devido equipamento e conhecimento, identificarão a espécie e tomarão as medidas adequadas.

- não é aconselhado ter uma colónia de vespas na sua propriedade, pela mesma razão mencionada anteriormente. O ideal é prevenir que estes insetos se sintam em casa. Normalmente procuram espaços protegidos e abrigados, como por exemplo buracos e espaços não utilizados, pelo que os mesmos devem ser cobertos e devidamente fechados para evitar que as vespas se familiarizem.

- nem todas as vespas são “as asiáticas”. Em Portugal existem inúmeras espécies residentes e até uma espécie autóctone (naturalmente pertence à fauna), a Vespa crabro, que, apesar de parecida, não deve ser confundida e exterminada por engano. Em caso de observação faça uma rápida pesquisa na internet e comprove qual a espécie do inseto que observa.

- as picadas de vespa, apesar de dolorosas, não são graves, a não ser que a vítima seja alérgica e desencadeie um choque anafilático com potenciais consequências fatais, quando não controlado de imediato, mas neste sentido também o são as picadas de abelhas.

Com esta informação esperamos que compreenda melhor o papel que as vespas asseguram perante a biodiversidade e o sistema alimentar mundial, que confirme antes de pensar em exterminar o inseto que observa e que passe a nutrir mais carinho por esta família de insetos tão vasta quanto importante.