Coma Pescado de Forma Sustentável
Hoje assinala-se o Dia Nacional do Mar e honramos este importante recurso natural com factos, dicas e sugestões relacionadas com a dieta e o consumo de pescado.
Para todos os flexitarianos é talvez difícil imaginar a dieta sem o consumo de peixe e marisco. Está intimamente ligado com a nossa cultura e com os nossos costumes e tradições. Contudo este consumo, como muito do associado ao atual sistema alimentar, está errado e é inconsequente continuar a executar os mesmos hábitos à espera de um futuro igual ou melhor do que o presente. Isso não vai acontecer.
De acordo com a WWF-ANP “estamos a apanhar mais pescado do que o oceano pode produzir. Chegámos a um ponto onde os ecossistemas marinhos e muitas comunidades locais – especialmente em países em desenvolvimento – estão em risco. A sobrepesca tornou-se a segunda maior ameaça para os nossos oceanos, depois das alterações climáticas, e brevemente poderá não haver mais peixe para pescar, produzir ou comer”. É fundamental uma alteração de paradigma e todos podemos contribuir.
Já anteriormente mencionamos algumas dicas relacionadas com os mares, resumimos as essenciais:
- reduzir o consumo geral de pescado, substituindo algumas das refeições de peixe por proteína vegetal, reduzir a quantidade de pescado consumida por refeição e variar o tipo de peixe consumido
- optar, sempre que possível, por pescado certificado (MSC ou ASC) procurando os respetivos símbolos nos rótulos, incluindo de alimentos congelados
- recusar peixe de pequena dimensão e privilegiar tipologias de pesca sustentável como o anzol, rede artesanal, palangre ou cerco (informação obrigatória no rótulo de cada peixe)
- evitar espécies em vias de extinção: alabote, atum, bacalhau do atlântico, camarões, espadarte, linguado europeu, peixe espada branco, peixes vermelhos, pescadas, raias, salmão do atlântico, solha americana, tamboris e tubarões.
Todas ações acessíveis e possíveis para todos nós. Antes de comprar tem o direito de saber o nome completo do peixe, de onde vem, se foi capturado ou produzido e como, e se é fresco ou congelado. Se esta informação não estiver visível, pergunte. Se não conseguir obter respostas, não compre.
Uma das atitudes mais eficazes que todos podemos adotar, relativamente ao consumo de pescado, consiste em optar por espécies recomendadas e tipologias de captura e cultivo sustentáveis. Partilhamos algumas espécies, comuns e não tanto, e informações que deve procurar no seu rótulo para determinar se o peixe em questão é sustentável.
Carapau
De nome científico Trachurus Trachurus é proveniente das águas do litoral do Atlântico, a partir da Islândia até ao Senegal, incluindo as ilhas de Cabo Verde, do mar Mediterrâneo e de Mármara. Deve ser comprado com mais de 15cm e apenas se for capturado por linhas de cerco. Pode ser consumido durante todo o ano.
Pescada
A Merluccius merluccius pode ser pescada no Mar Mediterrâneo, Mar do Norte e Leste do Oceano Atlântico, entre a Islândia e a Mauritânia. Deve ser comprada com mais de 27cm, e idealmente se for certificada pelo MSC. Evitar comprar se tiver sido capturada com técnicas de arrasto.
Bacalhau
O tão apreciado no nosso país Gadus morhua provém apenas do Atlântico Norte e a sua reprodução está em risco devido a tanta procura. Apenas compre se o peixe tiver mais de 1m e seja certificado pelo MSC (fresco ou congelado). Apenas assim garante que foram respeitadas práticas de pesca sustentável e assegura a continuidade da espécie.
Dourada
De nome científico Sparus aurata, a dourada é proveniente da parte oriental do Oceano Atlântico, Ilhas Britânicas e Ilhas Canárias, do Mediterrâneo e Mar Negro. Pode ser encontrada à venda proveniente de aquacultura e deve optar por produção biológica/orgânica ou captura com palangres ou redes fixas. Evite comprar peixes com menos de 20cm e se no rótulo mencionar a captura por arrasto.
Sardinha
A Sardina pilchardus teve direito ao seu nome na ilha da Sardenha mas é possível capturar sardinha em todos os lugares do Nordeste do Oceano Atlântico e Mediterrâneo para o Mar de Mármara e Mar Negro. A sardinha fresca pode ser comprada todo o ano, exceto em dezembro e janeiro quando se encontra em reprodução, e deve possuir sempre mais de 11cm. Enlatada ou congelada, opte sempre pela certificada pelo MSC.
Gamba-manchada
Esta gamba, de nome científico Penaeus Kkerathurus, é principalmente encontrada no Mediterrâneo, mas também no Atlântico oriental. Deve ser sempre comprada com mais de 12cm, fresca ou congelada, todo o ano à exceção de junho a outubro (época reprodutiva). É uma opção recomendada como substituto dos camarões mais comuns, atualmente ameaçados de extinção.
Mexilhões
Os Mytillus galloprovincialis podem ser encontrado nas zonas costeiras do Mediterrâneo e da maioria das restantes partes do mundo. Devem ser sempre comprados quando apresentam mais de 5cm. A aquicultura de mexilhão em corda é reconhecida como uma das práticas de cultivo mais sustentáveis e eficientes. Assim deve preferir mexilhões cultivados e de preferência com certificação ASC.
Peixe-gato ou Pangasius
O peixe-gato, de nome científico Pangasionodon hypophthalmus, provém integralmente do Vietname. Por essa mesma razão deve ser comprado apenas com mais de 3kg e preferencialmente certificado pelo ASC ou de cultivo biológico/orgânico.
Macua
Este peixe menos conhecido mas que se constitui como ótima alternativa, pode ser encontrado em duas tonalidades: fusco (Siganus luridus, também conhecido por spinefoot fusco) e marmoreado (Siganus Rivulatus, spinefoot marmoreado). Tem origens subtropicais e chega ao Mediterrâneo através do Canal de Suez, e deve optar por espécimes de 12 a 14cm. É bastante abundante e perfeito para reduzir a pressão da pesca sobre as espécies mais consumidas, como as garoupas, e apoiar os meios de subsistência dos pescadores locais.
Tainha
De nomes científicos variados devido às várias espécies existentes, Chelon labrosu, Mugil spp. ou Liza spp., é um peixe associado à poluição ribeirinha, contudo o vendido nas peixarias provém do Nordeste Atlântico, Canal Inglês, Mar do Norte e Mar Mediterrâneo, pelo que não representa essa realidade. Deve ser comprado com mais de 20cm e é uma alternativa ideal para o robalo, atualmente em condição de sobrepesca e risco de extinção. Tem quase o mesmo sabor e é mais económica.
Dicas e sugestões de compra de 10 espécies preferidas dos portugueses ou ideais substitutos para espécies em sobrepesca e risco de extinção. Esperamos que siga estas dicas, reduza o seu consumo e opte pelo pescado sustentável, dando assim uma hipótese às espécies marinhas de recuperar da nossa exploração.
É fundamental que todos tomemos consciência que o impacto que cada um de nós produz é real e contribui ativamente para o declínio de um dos maiores recursos naturais do planeta: o mar. Mas como todos impactamos negativamente, também, todos, podemos agir para reconverter o nosso impacto.
Junte-se a nós nesta caminhada por um estilo de vida sustentável, uma decisão assertiva de cada vez.