Dicas Sustentáveis para Destralhar a Casa
Um novo ano é, por regra, sinónimo de novos inícios, aprendizagens e restruturações. Esta lógica é tanto aplicável à nossa vida, quanto às divisões da nossa casa.
Depois de um ano de acumulações e de uma quadra festiva, mais ou menos agitada, o início de um novo ano dá-nos a possibilidade de simplificar e começar de novo. Neste sentido nada mais apropriado do que destralhar. Ou seja: eliminar todos de artigos que não possuem função ou qualquer utilidade e que podem assim ser apelidadas como “tralha”.
Remover estes artigos das divisões de casa, e até da vida!, constitui um momento de viragem que nem sempre é simples, nem rápido. Para auxiliar neste processo hoje partilhamos algumas dicas sustentáveis que nos foram, e são, úteis para um destralhe mais eficaz e menos stressante.
Não ser demasiado ambicioso
Acreditar que vai conseguir destralhar toda a casa rapidamente, a não ser que seja verdadeiramente minimalista, não é realista.
Na verdade, o que acontece é que quando começamos a destralhar, nos deparamos com uma quantidade inesperada de objetos, dos quais já nem nos recordávamos e que despertam memórias, ou que nem sabemos para que servem, qual o seu objetivo ou porque as mantivemos.
Todos estes momentos implicam pausas e tempo, pois de cada vez que um objeto inesperado aparece, o tempo de decisão é maior.
Assim eis as dicas principais:
- começar a destralhar as divisões mais pequenas para criar ritmo, planear o destralhe de uma divisão de cada vez, dando tempo para descansar, principalmente nos intervalos entre divisões grandes. Se tiver muitos artigos ou pouco tempo disponível ao invés de destralhar uma divisão de cada vez é mais eficaz e menos desmotivador escolher uma zona, por exemplo uma estante do escritório, e concluir a tarefa, do que tentar destralhar a divisão toda e falhar.
- conceda mais tempo do que acha que será necessário. Assim, se estima que demorará 1 hora a rever todos os artigos da tal estante, organize pelo menos 1h30, o ideal seria o dobro. Assim não ficará stressado por se aproximar o horário de outros compromissos, nem deixará a organização a meio.
Utilizar caixas ou caixotes
Durante o processo de destralhe vai naturalmente “classificar” os artigos que vai encontrando: uns serão para manter, outros não, outros ainda precisarão de alguma alteração.
Assim uma dica muito prática para tornar o processo mais organizado e menos caótico consiste na utilização de caixas ou caixotes para os artigos que não irá manter.
Sugerimos a seguinte “classificação”: doar ou vender, reparar, e reciclar ou reutilizar.
Desta forma é possível estabelecer um destino para todos os artigos que: ainda estão bons, mas com os quais já não se identifica ou não pretende manter; não estão totalmente operacionais mas com um pequeno arranjo podem ser novamente utilizados, com a garantia de que o irá mesmo fazer; não têm mais solução para além da reutilização, para outras funções, ou da reciclagem quando aplicável.
Relembramos que para a reciclagem ser efetivamente bem sucedida é fundamental que os artigos sejam separados nos seus componentes básicos e colocados nos contentores apropriados, sejam eles pertencentes ao ecoponto ou a algum fluxo especial (eletrónicos, óleos, tintas, rolhas, cápsulas, lâmpadas, etc.).
Se a reciclagem não for possível deve procurar uma solução ou ponderar compostar, antes de depositar o artigo no contentor de lixo, e consequentemente, em aterro. Alguns artigos de maior volume podem enquadrar-se neste exemplo, como o caso dos monos ou dos eletrodomésticos de grandes dimensões, que podem ser recolhidos por empresas de especialidade ou serviços municipais.
Regras básicas do destralhe
Cada um pode criar as suas regras para destralhar, desde que se veja livre de todos os artigos que não pretende manter ou com os quais não se identifica de todo, que não são utilizados, se encontram duplicados, não são reparáveis ou estão fora da validade.
Duas dicas importante sobre a reparação e a validade:
- antes de assumir que um artigo não é reparável, consulte uma loja especialista em reparações, preferencialmente que não obtenha rendimentos a vender artigos novos das mesmas marcas, pois nesse caso a resposta mais fácil será sempre "compre um novo".
- a validade de artigos alimentares é expressa com uma data específica, “consumir antes de” ou “consumir até”, mas tal não o deve desviar do mais importante: o aspeto visual, o cheiro e o sabor. Se estas três variáveis estiverem normais, mesmo que o artigo tiver passado da validade, à partida, é seguro consumir, principalmente se o alimento for ainda confecionado. Adicionalmente, e devido às suas particulares características, não coma produtos lácteos, carne, peixe, marisco e produtos com ovos, se os mesmos apresentarem algo de errado com as variáveis anteriores ou se apresentem fora da validade. Relembramos ainda que fármacos fora da validade devem ser devolvidos às farmácias.
Princípios: entusiasmo e tempo
A guru da organização Marie Kondo refere-se muitas vezes à sensação de “joy” (que pode traduzir-se informalmente para entusiasmo ou alegria), como o método mais eficaz para decidir com que artigos deve ficar no caso de dúvida.
A ideia consiste em manter artigos que lhe transmitem alegria ou entusiasmo e que vai seguramente continuar a utilizar. Contudo este método pode não ser muito claro com algumas categorias de artigos, como por exemplo a cozinha ou os arrumos. Acreditamos que uma chave de fendas desencontrada não desperta necessariamente alegria quando pegamos nela, mas pode fazer sentido mantê-la.
Assim este princípio deve ser conjugado com outros. Um que funciona particularmente bem consiste em usar a variável tempo. “No último ano, ou meio ano, utilizei este artigo?” “Posso vir a necessitar dele com o tempo?”
A colocação de perguntas a si próprio baseando-se no tempo pode tornar mais simples a obtenção de respostas para alguns artigos, mas nunca para todos. Livros e ferramentas poderão encaixar-se aqui como exceções, mas que pode considerar fazer todo o sentido manter.
Uma nota para os artigos infantis: é fundamental incluir as crianças no processo de destralhe dos artigos deles. Senão o fizer arrisca-se a ter uma monumental birra quando a criança decidir procurar “aquele brinquedo” e não o encontra. Mesmo crianças pequenas são capazes de tomar decisões muito convictas sobre os brinquedos e compreender que se não usa, não faz sentido mantê-los.
Cada coisa no seu lugar
Um dos objetivos de um processo de destralhe, para além da óbvia redução de artigos inúteis e consequente limpeza emocional, é também a expectável manutenção da organização, pelo menos durante algum tempo.
Para tal é fundamental que crie um local de arrumação para os artigos que escolheu manter. Pode identificá-los fisicamente ou não (por exemplo com etiquetas), mas deve fazer um verdadeiro esforço para organizar os artigos com que ficou e estabelecer um local de arrumação.
Experimente o seguinte: assim que terminar de escolher os artigos com que quer ficar numa divisão ou zona, limpe-a, preferencialmente com detergentes ecológicos, e proceda a organizá-los nos espaços existentes. Aproveite o momento para compreender se necessita de caixas ou sacas para melhor organizar o espaço e reaproveite materiais, como caixas de sapatos não utilizadas e sacas de papel, com as quais pode criar cestos se as dobrar sobre si mesmo.
Com as dicas partilhadas confirmamos que o destralhe é um processo longo e emocional, mas largamente compensador. Divisões que apenas possuem os artigos com que realmente se identifica revelam-se mais acolhedoras, tornam o dia-a-dia mais calmo e a sua limpeza regular mais simples e rápida.
Experimente. Escolha uma zona da sua casa e comece. Devagar, com tempo e sem pressões. Garantimos que, se seguir as nossas dicas, vai sentir o processo organizado e os seus resultados serão verdadeiros e impactantes.
Destralhe e desfrute da sua casa com o mínimo de objetos e o máximo de momentos com entes queridos e atividades enriquecedoras. Por uma vida mais simples e sustentável.