Vermicompostagem: Uma Solução Caseira

Vermicompostagem: Uma Solução Caseira
Fotografia de sippakorn yamkasikorn / Unsplash

De acordo com os últimos dados apresentados pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a produção de resíduos por habitante em Portugal continua a aumentar situando-se neste momento nos 511 kg/hab.ano e numa média de 1,4Kg de resíduos por dia por português.

Destes valores foi também possível estimar que 37,42% consistem em biorresíduos dos quais apenas 2% segue o caminho da valorização orgânica, sendo que a maioria continua, infelizmente, a seguir para aterro, 31%, e para tratamento mecânico e biológico (27%).

Consideramos estes dados, e os restantes apresentados no mais recente relatório da APA referente ao ano de 2021, preocupantes, pois estamos muito longe de atingir as metas europeias que nos comprometemos alcançar em 2025 e 2030, e na realidade ao invés de estarmos em rota de redução de resíduos continuamos a produzir cada vez mais.

Recuperando o otimismo da questão, reafirmamos que todos temos um papel ativo a desempenhar na redução dos resíduos que produzimos e uma das formas mais óbvias consiste no reaproveitamento de todo o material orgânico.

Fotografia de Seth Cottle / Unsplash

Quem nos acompanha sabe que somos 100% a favor da compostagem doméstica, abordamos este assunto sempre que o conseguimos enquadrar, pois de facto é simples de aplicar em qualquer habitação, permite reduzir drasticamente a quantidade de resíduos descartados e ainda produz fertilizante líquido e composto.

Ao falarmos de compostagem para qualquer habitação não estamos a referir-nos a compostagem tradicional, em compostores localizados no exterior da propriedade e que demoram longos meses até serem convertidos. Referimo-nos a tipologias como o Bokashi ou a Vermicompostagem.

Tendo a compostagem bokashi já sido por variadas vezes abordada aqui no Blog, hoje dedicamos a nossa atenção à segunda tipologia: a vermicompostagem.

Fotografia de Morten Jakob Pedersen / Unsplash

Como o nome sugere é uma compostagem que ocorre com o auxílio de minhocas e também dos microorganismos sempre presentes no meio, que irão consumir e degradar os resíduos alimentares que introduzirmos no compostor e produzir como subproduto o fertilizante líquido e o vermicomposto, também conhecido por húmus de minhoca.

Tendo em conta que para compostar desta forma apenas necessita de um minhocário, ou vermicompostor, de minhocas, papel ou cartão e restos de alimentos, nomeadamente de frutas e legumes (evitar a colocação de citrinos, líquidos, alimentos temperados e de origem animal, pois irão atrair pragas para o compostor e atrapalhar o processo de compostagem), esta compostagem pode ser realizada em qualquer tipo de habitação.

Pode sempre adquirir um vermicompostor e iniciar-se nesta aventura com um kit pré-feito que traz consigo todo o material e as instruções de compostagem, contudo hoje propomos que o tente fazer primeiro com materiais simples, compreenda todo o processo e verifique se se adapta ao mesmo antes de realizar o investimento (que eventualmente até pode considerar não valer a pena de todo e manter o mesmo sistema).

É muito simples e na realidade muito semelhante à criação do compostor bokashi, mas claro com as diferenças evidentes.

Para criar o seu vermicompostor necessita de: pelo menos dois baldes ou caixas empilháveis com 20L de capacidade cada, dois panos velhos, cartão ou papel não impresso, terra, minhocas e restos alimentares. E também um berbequim, x-acto ou serra manual.

Uma nota importante sobre as minhocas. Estes magníficos seres decompositores fundamentais para os ecossistemas em todo o mundo existem, em inúmeras espécies com preferências alimentares diferentes. Assim como pretendemos que decomponham os nossos resíduos alimentares necessitamos de minhocas específicas, neste caso da espécie Eisenia foetida, também designada por minhoca-vermelha-da-califórnia. Esta espécie cresce em número rapidamente e consome muita matéria orgânica, o que significa que produz húmus mais rapidamente que outras espécies. Podem ser adquiridas em produtores de minhocas para venda ou nas lojas de artigos de pesca.

Compost and Coffee cans
Fotografia de Jan Kopřiva / Unsplash

Com o material todo pronto eis os passos. Pretende-se criar uma torre na qual a base será um balde com a tampa parcialmente aberta e o nível acima será o compostor em si. Assim deve iniciar por:

  1. Realizar vários furos na base do balde de cima (servirão para escorrer o líquido do processo).
  2. Tendo em conta a localização destes furos, cortar a tampa do balde inferior à medida. Pretende-se que os baldes encaixem de forma estável e que o líquido do balde de cima caia no balde de baixo facilmente.
  3. Fazer alguns furos na parte superior do balde de cima (pode ser na tampa), de modo a permitir a circulação de ar.

Com as furações feitas seguimos para a criação do compostor em si:

  1. No balde cima colocar um pano no fundo para tapar os buracos, 10 a 15cm de terra e por último uma fina camada de cartão ou papel cortados aos pedaços pequenos.
  2. Adicionar as minhocas e alguns resíduos alimentares (poucos!) partidos em pedaços muito pequenos e agrupados num canto do compostor.
  3. Tapar a superfície com o restante pano velho (cujo objetivo é reter humidade no interior do compostor).

As minhocas irão demorar algum tempo a adaptar-se ao novo ambiente pelo que, após estes passos, deve aguardar pelo menos uma semana para voltar a adicionar mais resíduos.

Composting and sorting of biowaste from household
Fotografia de Lenka Dzurendova / Unsplash

Os resíduos alimentares devem ser adicionados apenas duas ou, no máximo, três vezes por semana, não exagerando na quantidade, em conjunto com mais cartão ou papel (reaproveite papel usado contudo evite papel impresso pois as tintas contêm químicos com propriedades tóxicas) e posicionados em pontos distintos do compostor.

Assim que o conteúdo do compostor já tiver reduzido visivelmente de volume e apresentar uma cor uniforme, semelhante a terra, está pronto a ser removido. Para tal deve adicionar borras de café num canto, as minhocas serão atraídas e deslocar-se-ão para esse ponto, podendo assim remover o composto do restante espaço.

É importante não remover a totalidade do composto obtido, é fundamental deixar sempre alguma quantidade para dar continuidade ao processo sem necessitar de inserir mais terra.

Informações importantes:

  • a utilização de cartão ou papel em conjunto com os restos alimentares está relacionada com a importância da manutenção da humidade no interior do compostor (não pode ser demais, nem de menos). Assim deve acrescentar-se restos alimentares e papel no rácio aproximado de 1:1, ou seja a mesma quantidade de alimentos e de papel. Também é possível utilizar para este efeito serrim ou folhas secas.
  • o vermicompostor deve ser colocado num local com temperatura estável (entre 15ºC a 25ºC) e abrigado do sol e da chuva. O local pode ser no interior ou exterior de casa.
  • se a decomposição correr bem o vermicompostor não emitirá qualquer cheiro, contudo se o fizer pode significar que tem demasiados restos alimentares no seu interior, que o rácio de alimentos e papel não está a ser cumprido e que por isso minhocas estão a ter dificuldades para decompor a matéria. Neste caso: parar de colocar resíduos durante uma semana, revolta o conteúdo com cuidado com uma pá ou colher e garantir que o compostor se encontra num local adequado.
  • se começarem a aparecer algumas moscas é necessário garantir que toda a fruta adocicada é envolvida em papel antes da sua colocação no compostor.
  • quando se ausentar por longos períodos de tempo peça a alguém para ir alimentar as minhocas pelo menos uma vez por semana.

Fotografia de Markus Spiske / Unsplash

Para utilizar os maravilhosos recursos produzidos com este método, o fertilizante líquido e o composto, saiba que deve diluir o fertilizante em água (1,25mL de fertilizante para 1L de água) e o composto deve ser adicionado a vasos ou camas de cultivo nos momentos de pausa ou antes da sementeira, dando assim tempo para que os seus nutrientes sejam devidamente incorporados no solo.

Esperamos que esta publicação tenha conseguido esclarecer dúvidas e mitos que se geram sobre o tema da compostagem e que o tenha motivado a aventurar-se no mundo da valorização caseira de resíduos.

Se considerar que a vermicompostagem não é para si, não desista, e conheça a compostagem bokashi, uma tipologia um pouco menos trabalhosa e que também dá origem a composto e fertilizante, perfeitos para a sua horta ou para oferecer.

Experimente, contribua ativamente para a redução dos resíduos e obtenha recursos valiosos para os seus cultivos caseiros, mesmo que sejam só à janela.

Murta Atitude Natural

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