As Leguminosas Podem Mudar o Mundo?
Está comprovado que o atual sistema alimentar não pode manter-se pois é insustentável agora e apenas piorará perante o previsto aumento de população até 2100.
Com esta evidência científica como mote a Associação Vegetariana Portuguesa (AVP) e parceiros, desenvolveu a proposta “Proteína Verde: Plantar a Alimentação do Futuro”, na qual defendem que uma aposta nas leguminosas pode mudar o rumo das previsões, assegurando alimento nutricionalmente equilibrado para todos, a manutenção da cultura gastronómica e, simultaneamente, combatendo as alterações climáticas.
A insustentabilidade do atual sistema alimentar baseado numa alimentação de base animal comprova-se também com os dados de 2020 da Organização Mundial de Saúde que afirma que 30% da população enfrenta uma situação de insegurança alimentar moderada a severa e 9,9% da população mundial sofre de desnutrição, apesar de já ocuparmos para fins alimentares 83% de toda a superfície agrícola do planeta!
Não é lógico que ocupemos praticamente toda a área útil do planeta para produzir alimentos e mesmo assim exista insegurança alimentar e desnutrição em inúmeros países do mundo. É fulcral uma mudança de paradigma.
Pesquisas sugerem que, se todos adotássemos uma dieta de base vegetal, seria possível reduzir o uso global de terra agrícola em 75% e as emissões de gases com efeito de estufa, pois seria necessária uma muito menor percentagem de terra e existiriam muito menos animais para consumo. Adicionalmente com uma dieta vegetal generalizada seria ainda possível reduzir o consumo de água e combater a desflorestação e perda de biodiversidade, todos maioritariamente associados à necessidade de irrigação e à existência de cada vez mais área dedicada para plantações e pastagens.
Esta não é uma realidade longínqua para Portugal que, de acordo com estudos recentes: é o país mediterrânico com a maior pegada ecológica per capita, é o terceiro país do mundo com maior consumo de peixe per capita (bem acima do recomendável), é o quarto país da Europa com mais espécies (flora e fauna) em risco de extinção (devido à expansão da indústria agropecuária), supera a média mundial na utilização de recursos hídricos apenas para o setor agrícola e possui quase todos os aquíferos em território nacional (55 em 62) impactados por poluentes provenientes da agropecuária. Impõe-se uma mudança de fundo na forma como a alimentação é abordada por todos.
Eis o que propõem os investigadores: “a produção de culturas vegetais com elevado valor proteico, que sejam utilizadas diretamente na cadeia alimentar humana, garantindo uma fonte de alimentação sustentável e segura, que simultaneamente favorece os solos e os agricultores locais, a economia e a saúde dos portugueses”. Para que esta mudança se efetive propõem uma série de recomendações que incluem apoios para a reconversão, constituição de equipas de investigação, capacitação de todos os profissionais envolvidos na cadeia alimentar (desde agricultores a cozinheiros) e rotulagem da pegada ecológica de produtos alimentares.
Nas culturas vegetais propostas destacam-se as leguminosas pois consistem numa das fontes que melhor balançam os valores nutricionais com vantagens para o solo no qual são cultivados, constituindo uma relação de ganho para ambos os lados. Dentro do grupo das leguminosas destacam: o tremoço, a fava, as ervilhas e o grão-de-bico.
Neste relatório, publicado em julho passado são também propostas políticas públicas de encorajamento à transição para uma agricultura sustentável e para uma economia baseada na proteína de origem vegetal. Sugerimos uma leitura do documento por todos: responsáveis governamentais e de empresas, trabalhadores do setor e público em geral.
É fundamental que todos tomemos consciência que, na altura de nos sentarmos à mesa para nos alimentarmos, as nossas escolhas também pesam e contribuem decisivamente para esta equação. Por isso recomendam: a adoção de uma dieta vegetal com base em espécies de elevado teor proteico no qual se destacam as leguminosas.
Assim hoje convidamos-vos a todos a:
- dedicarem mais atenção e cuidado à alimentação da vossa família.
- reduzirem o consumo de proteína animal (carne e peixe)
- pesquisarem novas refeições com alimentos vegetais nutricionalmente variados e equilibrados.
- e aventurarem-se aos poucos numa nova dieta.
Existem inúmeros guias que podem ser de grande utilidade nomeadamente os publicados pela AVP que podem ser gratuitamente descarregados na sua plataforma oficial avp.org.pt.
Junte-se a nós adote, promova a dieta vegetal e contribua ativamente para a mudança do sistema alimentar português e mundial.