Frutas e Legumes Sem Desperdício: Janeiro
O novo ano já marca passo e as rotinas, novas ou antigas, começam a instalar-se. É o caso da rubrica Cozinha Sem Desperdício que se mantém neste novo ano, mas sob a alçada de um novo título.
Nesta rubrica partimos da lista de legumes e frutas em época anteriormente divulgada e apresentamos sugestões para que nenhuma parte comestível ou útil desses alimentos seja desperdiçada.
Consideramos o combate ao desperdício alimentar fundamental num estilo de vida sustentável e o mesmo pode ser concretizado por cada um de nós em variadas fases: compra, armazenagem, preparação e consumo. Com este objetivo em mente nesta rubrica partilhamos dicas de compra, acondicionamento de alimentos e receitas ou faça-você-mesmos, para que tire partido de todas as partes comestíveis ou úteis dos alimentos que consome.
Acreditamos que os alimentos têm uma enorme capacidade utilitária ainda desconhecida da maior parte das pessoas e estamos muito motivados e entusiasmados para aprender mais e partilhar tudo consigo. Por isso acompanhe-nos neste mundo sustentável da Cozinha Zero Desperdício e, neste mês, fique a conhecer mais sobre talos e cascas de alface e de pera.
Alface
É seguramente um dos alimentos mais consumidos no nosso país, pois somos verdadeiramente apreciadores de saladas.
Este alimento, com escassez natural de julho a setembro, é composto sobretudo por água e apresenta pouquíssimas calorias. Possui vitamina A, ácido fólico, minerais como potássio, cálcio e ferro, tem efeito refrescante e diurético.
Por regra em Portugal a alface é introduzida em saladas ou sandes e consumida como acompanhamento ou refeição principal, contudo pode ainda ser incorporada em sopas, estufados e até sobremesas.
Para que a alface que compra se conserve por mais tempo: opte pelas que se encontram sem manchas ou folhas murchas, pois significa que foram colhidas à mais tempo, e mantenha-as no frigorífico no interior da gaveta ou recipiente para que não perca água demasiado depressa.
No caso de encontrar um bom negócio com alfaces já um pouco antigas: remova as folhas murchas e com manchas, composte-as, e utilize as restantes rapidamente. Por exemplo numa sopa de alface.
Basta juntar as folhas de alface bem lavadas a uma panela com cebola, batatas preservadas ou curgetes congeladas, nabo, cenoura, alho, sal e pimenta q.b. Pode servir com a base de sopa passada e a alface cozida em juliana, triturar parte da sopa e servir com alguns fios de alface cozida ou servir tudo em puré. É mais uma sopa para juntar ao seu livro de receitas e ideal para aproveitar alfaces murchas.
Qualquer que seja a forma como cozinha as suas alfaces, vai acabar com o talo central da alface, mas antes de o compostar, saiba que o mesmo é comestível. Sim, é verdade.
O talo central das alfaces é comestível e apresenta os mesmos nutrientes que as folhas em si, complementando-se. Assim, sugerimos que com o próximo talo de alface, experimente: juntá-lo a um refogado juntamente com a cebola quando for cozinhar sopas ou estufados ou utilize-o para fazer um chá calmante.
O ácido fólico constante nas alfaces e talos são ótimos calmantes naturais para o sistema nervoso. Desta forma se sofre episódios de insónias, estados de ansiedade, nervosismo ou stress, experimente este chá e tire partido de todas as propriedades deste comum, mas magnífico alimento.
Basta lavar bem o talo da alface, cortá-lo em pedaços pequenos e deixar infundir em meio litro de água quente pelo menos durante 5 minutos.
Desfrutar simples ou adoçado com mel para mais propriedades medicinais.
Pera
Esta fruta apreciada por muitos e com variedades portuguesas e autóctones como a Rocha e a Pereira-brava (Pyrus communis e Pyrus cordata) é rica em água, fibras e provitamina A (betacaroteno) e teor de açúcar variável dependendo da maturação ou espécie.
Todas estas características fazem desta fruta uma das nossas preferidas e mais utilizada em culinária pois, tal como a maçã, é possível desfrutar de frutas mais ácidas, mais aromáticas, mais ou menos doces.
No momento de escolha esta fruta, e na realidade todas, não deve ser manipulada com força nem apertada para verificar o grau de maturação, pois machuca com facilidade. Para saber se a fruta se encontra madura basta cheirar e observar as cores da sua casca. Se a casca se encontrar completamente verde a pera encontra-se verde, pode ser comprada e deixada a amadurecer, ou utilizada em preparações que beneficiam da fruta dura, como conserva de pera. Se a casca possuir alguma cor diferenciada (seja amarela, acastanhada ou avermelhada, dependendo da espécie), cheire-a, e se possuir o natural aroma a pera, está pronta para consumir.
Para amadurecerem as peras devem ser mantidas à temperatura ambiente e, eventualmente junto de bananas ou maçãs maduras, para que maturem mais depressa.
Para se conservarem devem ser refrigeradas até 10 dias num saco ou recipiente, ou para uma maior validade, congeladas. O procedimento é muito simples. As peras devem ser lavadas e cortadas aos gomos, sem sementes, com ou sem casca, dependendo do que consome mais, dispostas separadas num prato ou travessa e congeladas. Seguidamente basta guardar num saco apropriado a congelação e ir utilizando à medida da necessidade.
Se encontrar peras económicas mas muito maduras ou machucadas, compre-as, remova as partes não comestíveis e faça puré de pera. Coloque-as num tacho com um pouco de açúcar mascavado, 1 pau de canela e algumas gotas de sumo de limão e deixe cozer. Verifique o sabor, remova o pau de canela e esmague ou triture. Pode manter em frascos esterilizados selados a vácuo ou congelar os frascos (apenas não os encha até cima para que expandam de forma segura).
Este puré é ótimo para rechear crepes e tartes e como topping em iogurtes e sobremesas, contudo se o for preparar para crianças reduza ou elimine completamente o açúcar.
E como não seria uma cozinha zero desperdício senão fossemos até ao último pormenor eis mais duas dicas para utilizar os talos e as cascas das peras.
Ambos podem ser utilizados para aromatizar águas. Junte num tacho água da torneira, os talos e as cascas das peras, 1 pau de canela e 1 estrela de anis. Leve ao lume para que os sabores infundam. Verifique o sabor, coe e sirva morno. Também pode colocar todos os ingredientes numa jarra e levar ao frigorífico durante meio dia antes de coar e servir, desta vez frio.
As cascas apenas podem ainda ser transformadas num magnífico e nutritivo snack caseiro e saudável. Basta aproveitar um momento em que utilize o forno, disponha-as num tabuleiro forrado com papel vegetal e canela polvilhada e leve-as a assar por 10 minutos até que fiquem crocantes. Conserve-as num frasco esterilizado afastado da luz solar e zonas de calor ou humidade.
No caso de ter um desidratador mais simples ainda: basta dispor as cascas no tabuleiro do equipamento e escolher o programa mais adequado.
Eis as nossas dicas para um total aproveitamento de dois alimentos comuns e em época em janeiro: as alfaces e as peras. Com estas sugestões consegue aproveitar alimentos que se apresentem já um pouco machucados, os seus talos e as cascas em receitas úteis e que contribuem para uma verdadeira poupança ambiental e económica.
Não deixe de experimentar e tirar o máximo partido de todas as partes comestíveis e úteis destes dois alimentos e comece o ano com uma cozinha e alimentação sustentável.
Visite também as publicações anteriores sobre esta temática e saiba ainda como aproveitar: cascas de amêndoa, banana, limão e tangerina e de banana, ananás e cenoura.